segunda-feira, 9 de junho de 2008

As três maçãzinhas de ouro

Eram uma vez três irmãos.

O mais pequenino tinha os olhinhos azuis, o cabelo loiro e as faces rosadas como cerejas.

Era assim muito bonito. E quanto a bom coração nem se fala. Certa vez, dera a sua merenda a um pobrezinho; e outra encontrando um cãozinho que tinha uma perna partida, tomára-o ao colo e transportára-o para casa, onde cuidara dele até que sarasse.

Em contrapartida, os seus dois manos eram feios e invejosos.

Ora uma manhã, indo o mais pequenino dos irmãos para a serra com a suas cabrinhas, pois era pastor, viu num quintal, à beira do caminho, uma macieira carregada de belas maçãs. E disse para com ele próprio:

- Ah! Quem me dera trincar aquelas maçãs!

São, na verdade, de fazer crescer água na boca...

Mas, muito embora no quintal não se visse ninguém, o menino seguiu em frente, visto o seu bom coração não lhe permitir que as roubasse.

Chegando à serra, puseram-se as cabrinhas a pastar.

E o menino, enquanto as guardava, mais uma vez desabafou, porém agora em voz alta:

- Ah! Quem me dera trincar aquelas maçãs! São, na verdade, de fazer crescer água na boca...

Estas palavras não eram ditas, até que surgiu junto de si uma fada com três maçãs numa das mãos, que, estendendo-lhes, lhe falou assim:

- Não tenhas pena, meu lindo menino, das maçãs do caminho, porque dou-te estas, que valem muito mais, pois são de ouro e livram o dono da morte.

Por isso, não as dê a ninguém... a não ser aos teus paizinhos. E continua a portar-te bem, que Nosso Senhor sempre te ajudará...

Por artes de berenguendém e berloques, sumiu-se a fada, deixando o rapazote muito satisfeito com a prenda. Mas veio a tardinha, e o menino tomou o caminho de casa, mais as suas cabrinhas. E, andando um largo pedaço do caminho, apareceram-lhe os dois manos, que, ao verem as maçãzinhas de ouro, logo as cobiçaram e lhes pediram. Ele negou-se, porém, a dar-lhes. Então, os irmãos bateram-lhe tanto com um pau, que ele caiu por terra como morto.

Posto isto, tentaram abrir-lhe as mãos, para lhe tirar as maçãzinhas. Mas qual quê?! Quanto mais esforço despendiam, mais as mãos dele apertavam as maçãs. E, vendo que eram inúteis todas as suas tentativas, abriram uma cova e enterraram-no.

Pensaram os pais do menino que tinham sido os lobos da serra os causadores do seu desaparecimento e, por isso, julgando-o já na barriga dos mesmos choraram grossas lágrimas, pois eram muito seus amigos.

Mas, na cova daquele, não tardou que crescesse uma cana. E um pastor cortou-a e fez dela uma flauta. A levá-la aos lábios, em vez de tocar, falou:


"Toca, toca, ó pastor,
Os meus irmãos me mataram,
Por três maçãzinhas de ouro,
E ao cabo não as levaram."

Perante tamanha maravilha, o pastor, encontrando um carvoeiro, propôs-lhe:

- Amigo, toca nesta flauta, que ouvirás coisa de espantar!

O carvoeiro assim fez, e logo a flauta:

"Toca, toca, ó carvoeiro,
Os meus irmãos me mataram,
Por três maçãzinhas de ouro,
E ao cabo não as levaram."

Passou a flauta de mão em mão, repetindo-se sempre, com pequenas variações, os dizeres, até que foi ter às mão dos pais do menino. E levando-a aos lábios, a mesma também afirmou:

"Toca, toca ó meu pai...
Toca, toca, ó minha mãe,
Os meus irmãos me mataram,
Por três maçãzinhas de ouro,
E ao cabo não as levaram."

Largaram os pais a flauta e logo perguntaram ao pastor onde a cortara. E este depressa os conduziu ao local. Aí, cavando, encontraram o menino, que imediatamente abriu os olhinhos e se ergueu, a oferecer-lhes as maçãzinhas, com as seguintes palavras:

- Tomai-as, que estais velhos e, com tal remédio, não há mal que vos pegue.
E os pais, guardando as maçãzinhas, gozaram de boa saúde durante muitos e muitos anos. Até que, cansados de tanto viver, as devolveram ao filho e foram descansar dos seus trabalhos no regaço de Nosso Senhor.

E àquele sucedeu o mesmo, quando, por sua vez, a entregou ao seu filho.

E os dois irmãos malvados?

Oh! a esses roeu-lhes a inveja e a vergonha no coração...

O peixe Pixote

Pixote vivia num lago sempre muito infeliz.

Ele não gostava do lago. Lá era tudo muito escuro, escuro que nem breu, e Pixote morria de medo do escuro.


Toda hora ele ia até a margem do lago. Botava a cabeça pra fora e achava tudo lindo.

Céu azul, grama, sol. Flores para todo lado. criança, gato, cachorro, e era tão colorido, tão alegre, tão claro!
Pixote queria morar na grama entre as árvores. Ele ficava um tempo na margem do lago, mas tinha de voltar pra água para respirar. Para não morrer.


Pixote começava a nadar de novo, no meio do lago. Era uma escuridão sem fim, uma feiúra sem fim, uma tristeza sem fim.

E a vida de Pixote era assim. Da água para margem e da margem para a água. Sempre sozinho, cheio de medo, infeliz da vida.


Um dia, Pixote estava nadando e olhando os outros peixes.

Eles brincavam, contentes nas águas claras do lago. De repente, Pixote pensou:
- Ué! Outros peixes?

Águas claras? O que aconteceu?
- Será que vim parar em outro lago sem saber? perguntava Pixote.


E olhava para todo lado e via um monte de coisas novas, via pedras de todos os tamanhos, de todas as cores.

E plantas aquáticas, sapos, rãs.

Até sapatos velhos e brinquedos de crianças tinha lá!

E era tudo tão lindo! A água meio azulada, cheia de claros e escuros, cheia de brilhos. Uma beleza mesmo.


Pixote olhava e ria. Cadê a escuridão? Cadê o medo? Pixote estava era contente, feliz da vida.

De repente Pixote descobriu que tinha acontecido, e começou a rir.

- Eu sou mesmo um pateta! Ficava nadando pra lá e pra cá, morrendo de medo do escuro...

- Lógico! eu só nadava de olhos fechados!